domingo, 18 de dezembro de 2011

O Catalão Chato

Acordamos cedo para ver a final do mundial de clubes e ficamos, a maioria, decepcionados. Todos sabiam do grande desafio para o Santos, então por que nós, torcedores neutros, não torcemos para o provável vencedor? Encontrar esta resposta significa entender comportamento do torcedor, inclusive enquanto consumidor. Uma pesquisa realizada pela South Florida University concluiu que, em uma situação bem semelhante, dois a cada três torcedores estariam dispostos a apoiar o time - não necessariamente o mais fraco - economicamente mais frágil, que luta em condições desiguais com o adversário mais rico e melhor estruturado. Tudo isso quando a disputa não envolve nosso clube do coração, é claro. A vitória menos provável é também a mais saborosa e esta é justamente a emoção que move os fãs. Quando mais gente lota um estádio para torcer pelo seu time contra um poderoso oponente, também está seguindo este instinto. Deve ser por isso que acho o Barcelona chato. Baita de um estraga-prazer!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Santo Sudário

Conforme matéria da Máquina do Esporte, a Nike anunciou os novos clubes brasileiros que vai vestir em 2012. Entre eles está o Santos, uma grande novidade, depois de 14 anos de contrato com a Umbro. Sem dúvida, isto tem muito a ver com Neymar. O garoto-craque é mais que uma realidade, seguindo, no mínimo (o que é muito!), os passos de Ronaldo. Segundo o executivo da Nike citado na matéria, outro motivo é a gestão do clube. Outro excelente motivo. A gestão santista sofreu uma revolução, concretizando os ideais da ONG Santos Vivo, criada com este objetivo quase utópico à época. Segurar Neymar e conquistar a Nike são ícones desse sucesso. A valorização comercial do Santos, não aconteceu por acaso. Títulos, ídolos e boa reputação - incluindo boa gestão - são os ingredientes mais importantes para fortalecer uma marca esportiva. Mais do que justo cultuar esta camisa 11, com o escudo alvinegro e o swoosh ao peito. Outras conquistas virão, não apenas dentro de campo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mata-Galvão

Realmente o UFC está com tudo no Brasil. Depois de travar uma luta digna de octógono pelos direitos de transmissão do evento, utilizando as mais avançadas técnicas de finalização, a TV Globo mostra que está mesmo a fim de uma boa briga. Acaba de anunciar que Galvão Bueno será o narrador da primeira noite de MMA transmitida ao vivo pela rede carioca, já no sábado 12, com comentários de Vítor Belfort. Com certeza, é uma prova de confiança nesta modalidade que ganhou, quase que instantaneamente, um espaço na nossa cultura popular, ultrapassando os limites dos fãs de lutas, que já não eram poucos. Muito por causa do fenômeno - sem trocadilho - que Anderson Silva tem se revelado, não apenas sobre o tatame. Estou aqui pensando que entre um cala-boca e um mata-leão, a Globo emendou um mata-galvão, com direito a imobilização em frente à TV. Quero só ver no que isso vai dar. It´s time!!!

sábado, 17 de setembro de 2011

Mil vezes Rogério Ceni

Na semana que passou, estive no Morumbi para a festa dos mil jogos de Rogério Ceni, homenageado pela torcida (mais do que pelo clube) de forma muito bonita e justa, por sinal. Mas o jogo serviu de reflexão sobre o futebol brasileiro. Tudo começou com o chefe de segurança do clube, do qual sou sócio, me oferecendo ingressos de cativa "com ágio". Tentei ignorar o fato e segui para comprar meus ingressos de proprietário de cativa, vendidos apenas do outro lado do estádio, com direito a uma bela caminhada com obstáculos e fila. Depois aquele tradicional empurra-empurra para passar pela revista policial. E uma fila enorme para as mulheres. Entenda bem: tudo isso na cativa! No meio da bagunça, conheci uma pequena torcedora, de 8 anos, que ia ao estádio pela primeira vez, ao lado do pai. Perguntou a ele se tinham que "ficar ali mesmo" e o pai respondeu que era "para o nosso bem". Imaginei qual a impressão que ela levaria para casa e na paixão que move o futebol. Pensei quantas mil vezes nós torcedores temos que encarar estes perrengues para ir a um jogo de Futebol. Lembrei da primeira vez que fui ao estádio e que nada mudou nestes 30 anos que frequento o Morumbi. Quantos outros mil jogos virão?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Bola octogonal

Uma matéria na revista Tatame de setembro, com a cobertura do UFC Rio, mostra a nova e inusitada relação entre os craques do MMA e os clubes de futebol. A ideia realmente não me agrada. Totalmente desnecessário e perigoso associar um esporte violento - querendo ou não - ao mundo dos estádios, marcado pela intolerância. Mesmo que ajude a massificar o esporte, o comportamento do torcedor de futebol é não algo para ser levado para dentro do octógono. Eu estava lá e não me surpreendi em ver e ouvir a saia justa em que se meteu o gênio Anderson Silva. Depois de ser ovacionado pela grande vitória, ele foi "retaliado" - numa boa, é verdade - por exibir o escudo do Corinthians no peito. Anderson é um ídolo com todos os ingredientes para conquistar todas as torcidas, o que vem fazendo de forma avassaladora, a ponto de ignorarem sua relação com o clube paulista. E o MMA tem força para se tornar a segunda modalidade esportiva do Brasil. Tudo isso exatamente por fazerem tudo diferente (pra melhor) do que nosso Futebol sabe fazer.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Tá na rede social

Na última semana, a página do Corinthians no Facebook comemorou a marca de 1 milhão de fãs. Se existia alguma dúvida sobre o impacto das redes sociais sobre os negócios do Esporte, aí está a primeira resposta. O desenvolvimento tecnológico permitiu realizar, sem tanto esforço, um grande sonho dos gestores esportivos: criar uma verdadeira comunidade que reunisse seus fiéis torcedores. Como os torcedores estão espalhados geograficamente, nada mais eficiente e barato do que as mídias sociais para criar uma rede própria de informação interativa e oferta de produtos e serviços, do próprio clube ou de seus parceiros comerciais, como patrocinadores e licenciados.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Batismo Corintiano

Uma questão que envolve desde cedo a construção do Itaquerão, ou melhor, do "Estádio do Corinthians" (já explico), é o chamado naming right (se preferir, "direito de denominação") da nova arena. Sem dúvida, este é um dos mais valiosos ativos de uma arena esportiva, desde que trabalhado com precisão, como manda o Marketing Esportivo de Verdade. O clube começou muito bem, evitando dar um nome provisório ao templo corintiano, como Fielzão (como era chamado) ou Itaquerão (como ficou mais conhecido). Esse é o ponto! Se o estádio ficar sem nome, fica a cargo do povão e da imprensa criar um nome qualquer. E haja imaginação e mau gosto! Estes dias, o presidente Andrés Sanchez confirmou que vai negociar só em 2012 o batismo da arena, pois estaria mais valorizado, assim como - segundo ele - os apartamentos lançados na planta. Não faz sentido, presidente, mesmo porque isso não acontece com o NOME do prédio! Em outras palavras, o valor imobiliário não tem nada a ver com o valor comercial, principalmente neste caso. Quanto antes o nome for atribuído - o momento ideal inclusive já passou - mais fácil o nome pegar, ou seja, maior será o retorno deste "padrinho", que estará disposto a pagar muito mais (sabe que outro nome tem o Credicard Hall? Não se culpe por isso!). Não diria que é um erro grosseiro, já que o assunto é de alguma forma novo para o esporte brasileiro. Mas este detalhe pode valer milhões e por isso precisaria ser dominado pelos nossos gestores. Presidente, mãos à obra e espero que a dica seja, literalmente, construtiva!

domingo, 31 de julho de 2011

Hecho en Paraguay

No Marketing Esportivo de Verdade, falamos, entre outras coisas, da atratividade do produto (normalmente um serviço), ou seja, os benefícios entregues ao consumidor, no nosso caso, o torcedor. Pode ser novidade para muita gente, mas a elaboração de tabelas e regulamentos de competições esportivas também merece um olhar de Marketing, já que estão para os eventos como as embalagens para os produtos de consumo. O melhor exemplo que conheço, acaba de acontecer na Copa América de Futebol 2011. O Paraguai chegou à final sem vencer nenhuma partida, nenhuminha! O fato provavelmente inédito não é apenas uma coincidência. Uma distorção no regulamento da competição permitiu (ou será que causou) este infeliz acontecimento para quem gosta de Futebol, ou seja, bola pra frente. Para a primeira fase, ao contrário de 99,9% das competições mundiais, o número de vitórias não foi usado como critério de desempate, o que teria eliminado os paraguaios logo de cara. Também não foi por obra do acaso que quase metade dos jogos da primeira fase terminaram empatados (o dobro da média da Copa do Mundo de 2010, por exemplo). Brasil, Argentina, Peru e Venezuela foram eliminados invictos. Como se pode ver, Marketing Esportivo também pode ser uma caixinha de surpresas.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Se cobrir, vira... estádio!

A novela do estádio do Corinthians é realmente interminável. Logo agora que começamos a nos acostumar a este projeto, diria, excêntrico. Que o estádio mudou de preço várias vezes todos já sabem: 300, 350, 650, 820, 850 milhões, 1 bilhão... haja imaginação. Ah, quase esqueço que não ia custar nada, já que a construtora ficaria com os naming rights, lembra? E não se trata, necessariamente de aumento dos custos, já que estes valores foram divulgados em ordem aleatória. A surpresa do dia é que o estádio acertado com a Odebrecht e financiado pela Prefeitura, através de um acordo assinado ontem, tem dois 'pequenos' problemas. Primeiro, o contrato com a construtora não está assinado, ou seja, tudo no fio do bigode. Segundo - e mais inacreditável, o estádio não tem capacidade de público para receber a abertura da Copa do Mundo! Está parecendo a história do Morumbi! Já era para desconfiar de uma conveniente coincidência: o estádio iria custar o valor exato do financiamento máximo do BNDES (R$ 400 milhões) somado ao incentivo fiscal (R$ 420 milhões), o que seria absolutamente normal, caso o custo total não tivesse sido acordado depois (!!!). Agora, para completar, soubemos que faltam R$ 50 ou 70 milhões (outra 'pequena diferença') para construir as arquibancadas provisórias para a Copa. Em resumo, nunca se viu tamanha bagunça... e olha que estamos escolados. Aliás, quanto vai custar esta nova cobertura?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma copa marcada*

Depois de meses, este blog finalmente sai do silêncio. O motivo? Entre outros menos importantes, a (des)organização da Copa do Mundo 2014. Infelizmente, não é novidade a falta de iniciativa e o excesso de politicagem neste processo. Mas prefiro ficar alheio a isto por um momento e olhar para 2014 com os olhos do Marketing. Até para não escrever algo que já estamos cansados de ler e ouvir. A marca é o principal ativo de qualquer organização, principalmente no Esporte. Do valor das marcas esportivas, ou seja, sua reputação e relevância, vem o interesse do público e da mídia, traduzido em receita através da venda de direitos de transmissão, licenciamento, venda de ingressos e patrocínios. Copa do Mundo é uma baita marca! Mas tudo que se faz contra ou a favor de uma marca fica registrado - diria tatuado - na cabeça dos clientes, no caso torcedores e organizações. Este é o ponto! Seja qual for o resultado final dessa bagunça, os danos à marca Brasil 2014 já são irreparáveis. Mesmo que Cristo desça à Terra nos próximos 3 anos (será que Ele chega pra Copa das Confederações?), como profetizou o deputado (???) Romário, a desconfiança em relação à Copa já terá causado prejuízos morais e financeiros. A marca de uma Copa do Mundo se constrói num ciclo de 4 anos. Praticamente um ano se passou e estamos surpresos com nossa capacidade de não fazer ou fazer mal feito. Investimentos colocados na gaveta, planos adiados ou rasgados, sonhos despedaçados. No Licenciamento, por exemplo, já podemos sentir a angústia do mercado corporativo pela falta de respostas. Imagino que até mesmo aquele "clima de copa" já esteja bastante comprometido, afinal seriam 4 anos de festa, não é? Mesmo se fizermos uma grande copa, o sentimento será mais de alívio do que de conquista. Talvez não aos olhos do mundo, mas para os brasileiros mais atentos sempre haverá um ar de frustração. Como será atmosfera de um estádio construído sobre a corrupção? Qual o legado deixado nos terminais aéreos provisórios? Por que já sabemos onde a Copa termina se nem sabemos onde vai começar? Muitas perguntas sem resposta. A Copa será mesmo no Brasil? Esta resposta não é mais óbvia, embora eu ainda responda com um tímido 'sim' (com cara de 'por incrível que pareça, sim'). Hoje, ainda podemos sonhar com a melhor copa de todas. Não a melhor de todos os tempos, como poderia ter sido, mas simplesmente a melhor copa que pudermos fazer.

(*) Dedico esta publicação ao aluno, colega e amigo Marcelo Amaral Poyares, que nos deixou último dia 19.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Treze clubes e um novo segredo

Depois da crise no Corinthians e das revoltas no Oriente Médio, é a vez do Futebol Brasileiro inteiro entrar em ebulição. Um racha no famoso (mas nem tanto) Clube dos 13 pode dar uma nova (des)ordem ao nosso futebol. Corinthians, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo estão de saída. Significa dizer que o sonho acabou. Para quem não sabe, a entidade, formada pelos maiores clubes brasileiros, foi criada e gerida principalmente para negociar em conjunto os direitos de transmissão dos jogos na TV. Foi, talvez, a principal iniciativa em termos de gestão na história do nosso Futebol. Sonhava com vôos maiores, que nunca vingaram. Mas só a TV já era algo muito grande e importante. Com a divisão, os clubes pretendem negociar individualmente, como no caso do time paulista, ou em pequenos grupos, com o caso dos cariocas. A própria TV Globo anunciou que vai optar pelas negociações individuais para o período 2012-2014. Não dá para se dizer que vai gerar menos receita, talvez até o contrário. Mas é confusão na certa! Nunca entendi porque os clubes pequenos promovidos da série B não tentavam negociar seus direitos individualmente, já que não tinham acordo com a TV, no caso a Globo. Em 2008, o então-rebaixado Corinthians abriu o precendente, quando não aceitou a negociação coletiva dos demais clubes e firmou um acordo individual com a emissora carioca. E ninguém chiou. Significa que, a partir de agora (ou de sempre), pequenos e médios clubes recém-promovidos da série B podem negociar individualmente seus jogos, inclusive - e principalmente - contra os grandes, o que derrubaria de vez qualquer forma de exclusividade. É algo que não está bem definido pela legislação, mas um segredo já foi revelado: na opinião destes cinco dissidentes peso-pesados e da Globo, a regra é realmente cada um por si. Em um confronto entre duas equipes, cada uma delas pode comercializar os direitos de transmiti-la, sem autorização do adversário. Na Itália, por exemplo, os direitos pertencem aos donos da casa. Na Inglaterra, pertencem à liga, na França, à confederação. E por aqui? Bom, por aqui, a Deus pertencem.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O primeiro dia do resto de nossas vidas

Fim de jogo. Ronaldo, o Fenômeno, parou de jogar Futebol. É o fim da carreira de um dos maiores ídolos do Esporte em todos os tempos. O ícone da era do Marketing Esportivo global, o maior artilheiro de todas as copas do mundo. Um romance épico, recheado de momentos de superação e êxtase, que seria surreal demais para a ficção. Mesmo mal assessorado fora de campo, Ronaldo sempre respondeu em campo às críticas e dúvidas. Ao contrário do que se possa pensar, fez o que fez pelo seu talento único e carisma irresistível, que o transformaram no garoto-propaganda dos sonhos da indústria do Esporte. O tempo parou. A partir de agora, Ronaldo viverá na memória daqueles que tiveram o prazer de vê-lo jogar e das histórias que temos para contar. Eu, por exemplo, nunca vou me esquecer daquele 7 de julho de 1998, em Marselha. No estádio Velodrome - nome que já deveria prever o que aconteceria naquela noite - Ronaldo corria em movimentos circulares, com impressionante velocidade e habilidade. E todo o time da Holanda atrás dele. Algo que a TV jamais conseguiria mostrar. A melhor partida que já vi - e provavelmente verei - alguém jogar. E o que dizer daquele gol arrasa-quarteirão pelo Barcelona ou dos dois marcados na final de 2002? Nada menos que os primeiros (e únicos) gols brasileiros em finais de Copa desde 1970. Mas, este dia, de perda irreparável para quem ama e vive do Esporte, traz um misto de dor e satisfação. Hoje, é o dia da morte do atleta e nascimento do mito. Um mundo sem balança, adversários ou críticos. Para quem pensa que acabou, prepare-se, pois este é apenas o início dos dias de um artilheiro imortal.