terça-feira, 18 de maio de 2010

Quem inventou o elástico?

Costumamos atribuir, em meio a boleiros, jornalistas e torcedores nostálgicos, a criação do elástico ao craque Roberto Rivelino, em 1975. O toque mágico aconteceu quando Riva, então no Fluminense, dibrou (o correto é 'driblou', claro) Alcir, do Vasco, no melhor estilo futebol-arte e entrou para história. O que pouca gente sabe, no meio futebolístico, é que 83 anos antes, outro "el bigodón", o inglês Alfred Marshall consagrou outro elástico. Não era jogador (duas décadas depois da invenção do Futebol, pelos ingleses) e, sim, economista. Marshall entrou para história com o conceito de elasticidade preço-demanda. Sua teoria analisa a variação da procura por produtos e serviços em função do preço praticado. Dirigentes do Futebol brasileiro têm testado a teoria à exaustão, quando o assunto é preço de ingressos! Um destes experimentos bizarros vem acontecendo com o estádio do Morumbi, neste ano, utilizando - obviamente - o torcedor como cobaia. No início de temporada, o ingresso de arquibancada permaneceu na casa de R$ 30-40. Para a semifinal do Paulistão, contra o Santos, saltou para R$ 60. Resultado, o clube mandante que deveria se beneficiar do resultado financeiro e daquele empurrão dos torcedores, colocou apenas 35 mil torcedores no clássico. Numa conta grosseira, se mantivesse o preço e lotasse o estádio, ganharia a mesma coisa, venderia mais esfiha, deixaria os torcedores felizes e, quem sabe, empataria ou ganharia o jogo. Uma semana depois, pela 1a. fase da Libertadores, com o time praticamente classificado e desanimado, os ingressos voltaram aos R$ 40 e, não por acaso, mais de 50 mil estiverem no Morumbi. Fazendo um desfavor à ciência, duas semanas depois, já pela 2a. fase do torneio continental, o clube voltou a cobrar R$ 60 pelos ingressos, o que atraiu 'apenas' 43 mil pessoas. Ou seja, jogo mais importante, renda um pouquinho maior, não lotou e o time passou sufoco. Agora, nas quartas-de-final, já é R$ 70. Deve lotar, mas é muito caro! Sou partidário da teoria de que o estádio primeiro precisa encher, para depois aumentar os preços. Também não resolve fazer a conta na ponta do lápis, pois o estádio lotado faz toda a diferença, para quem está lá, para os atletas, para a imprensa e para os patrocinadores. Em segundo lugar, acho o preço abusivo mesmo, pois não condiz com o valor do produto. Quando o time ganha, o torcedor até aceitaria pagar outro ingresso. Agora, quando perde, põe os pés no chão e percebe como foi explorado, humilhado, ignorado nas horas anteriores. Muitas vezes, não volta (a não ser os teimosos 15 mil gatos-pingados que costumam aparecer por lá). Agora estamos falando de satisfação! É o que move o consumidor em qualquer relação de compra. Se Rivelino encantou o mundo pelo improviso, Marshall imortalizou o que hoje é óbvio. Claro que o valor do ingresso pode variar, de acordo com a importância dos jogos. Mas, por que não pensam assim na hora de baixar os preços? Por que os ingressos custam R$ 40 mesmo quando ninguém quer ir? Fique claro: não queremos que baixem preços dos ingressos, queremos que melhorem o serviço! Estes dias, uma pesquisa publicada pelo DataFolha concluiu que 34% dos torcedores atuais nunca foram ao estádio. E outros 22% só foram uma ou duas vezes na vida. Por que será?

Um comentário:

  1. Com certeza Marco, como você disse, se os jogos fossem de qualidade até entenderiamos o porque do preço abusivo, porque assim como no teatro, os melhores espetáculos possuem um preço mais elevado, mas o que dizer do futebol de hoje, ainda mais aqui no Brasil.
    Essa mudança de preço é uma vergonha, mas quando o clube precisa de nós torcedores os preços ficam no chão.
    Além do fato dos preços, ainda tem o problema da violência, que certamente interfere bastante nesta pesquisa, ou alguém teria coragem de levar seu filho ou esposa em um clássico, acho que não.
    parabéns pelo post.

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