quinta-feira, 30 de abril de 2009

A verdade sobre Interlagos


Como prometi, vou dedicar tempo e espaço ao mundial de Fórmula 1 do ano passado, particularmente o GP de Interlagos. Sairei momentaneamente da esfera do Marketing, circulando pelo lado negro do Esporte enquanto negócio. Recapitulando o que a maioria já sabe. O piloto Felipe Massa tinha remotas chances de ser campeão da temporada. Como única opção, vencer a corrida em Interlagos - o que fez de ponta a ponta - e contar com que o rival Lewis Hamilton não chegasse entre os 5 primeiros, onde permaneceu por quase toda a prova. A sorte virou quanto Lewis foi ultrapassado por Sebastian Vettel a 2 voltas do final. Massa foi o virtual campeão por alguns momentos, naquele que seria o maior dia da história de Interlagos (e olha que eu estava lá na 1a. vitória de Senna). Tudo era perfeito, mágico, até que na última volta, Timo Glock fizesse um tempo de Stock Car Light em Interlagos (um surreal 1’44”731), permitindo a ultrapassagem e o título de Hamilton. A história já é improvável, mas a versão mais absurda vem, curiosamente, do chefe da McLaren, Martin Whitmarsh, em depoimento à conceituadíssima Fox Sports. Segundo ele, Hamilton, por ordem dos boxes, deixou que Vettel o ultrapassasse, uma vez que Glock já estaria muito mais lento que o inglês naquela volta e seria fatalmente ultrapassado pela 'flecha de prata'. O fato é que, moralmente embriagado, Whitmarsh errou bizonhamente nas contas e destroçou a versão oficial da equipe. Quando Vettel ultrapassou Hamilton, a transmissão oficial marcava 2/71 (duas para o final, de um total de 71 voltas). Logo estávamos na volta 70, certo? Errado. Felipe Massa havia cruzado a linha e iniciado a volta 70. Hamilton e Vettel ainda estavam no último trecho da volta 69. Glock fechou esta volta em 1'18''688 enquanto Hamilton marcava 1'24"612, segundo a cronometragem oficial da FIA. Consegue adivinhar quem foi o piloto mais rápido na pista na volta 69? Se apostou em Glock, está incrivelmente certo! Ou seja, Timo estava 6"(seis segundos!) mais rápido que Lewis, mas a McLaren já sabia que seria campeã (eles que disseram!). O chefão da equipe cometeu um erro grosseiro, se referindo (provavelmente) à volta 70, quando Hamilton foi realmente bem mais rápido que Glock. Outra mentira histórica é que a chuva engrossou nas últimas 2 voltas, deixando Glock (de pneus lisos) tão mais lento. Tenho a convicção do contrário, por que eu estava lá, em frente à Curva da Junção, onde ocorreu a ultrapassagem. Estava chovendo sim, mas uma garoa fina, nada diferente das voltas anteriores. Para não confiar apenas na minha memória (apesar que nunca esquecerei aquelas cenas), acessei o vídeo que mostra o momento exato da ultrapassagem, exibindo um "trilho" de pista seca, por onde Glock passeava. 

Só cheguei a estas conclusões acessando fóruns internacionais, repletos de fãs inconformados, de diversas nacionalidades. Como minha idéia é informar mais do que comentar, fiz questão de incluir dois links (no texto) e o vídeo que mostram o que realmente aconteceu.

Publico este artigo, humildemente, em homenagem ao magnífico Ayrton Senna, cuja morte completa 15 saudosos anos neste 1o. de maio.


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Não deu certo...

A iniciativa do São Paulo em fazer valer o regulamento e limitar o número de ingressos para os visitantes nos clássicos paulistas não deu certo. Tudo começou no clássico do dia 15 de fevereiro entre São Paulo e Corinthians. Com aproximadamente 33.000 torcedores, pagando ingressos mais caros, o tricolor paulista apenas empatou. Estratégia repetida no clássico do dia 24 de março, diante do Palmeiras, quando apenas 18.000 pobres coitados, que pagaram ingressos igualmente majorados, assistiram à vitória diante do Palmeiras. O fato se repetiu, em outras proporções, no último domingo, onde apenas 45.000 testemunhas, com ingresso majorado e tudo (que idéia e que hora!), acompanharam a derrota nas semifinais do Paulistão. Se é que torcida ganha jogo, o clube não lotou o estádio e talvez por isso, não tenha feito valer seu mando. Diante de uma receita não realizada, que calculo em R$ 2,5 milhões (30.000+16.000+15.000 x R$40,00), o São Paulo está fora. O Futebol como negócio conta com variáveis incontroláveis, como o resultado das partidas, e controláveis - por parte dos dirigentes, que não jogam bola - como a carga e preço de ingressos. Utilizando sua bola de cristal, o São Paulo conseguiu a façanha de perder dos dois lados. Pegando carona na crise do mercado financeiro, o clube gerenciou mal seu risco, já que podia sair desta disputa de cabeça inchada, mas bolso cheio. Que fique de lição.

sábado, 18 de abril de 2009

Sou brahmeiro... mas não sou atleta!

Foi um choque para mim. Ligar a televisão e ver Ronaldo com um copo de cerveja na mão é algo bizarro. É difícil acreditar que a poderosa multinacional ex-brasileira e a assessoria deste fenômeno de mídia do século XX tenham chegado a este ponto. Sem falso moralismo, mas atleta e cerveja não tem nada a ver. Aliás, por que mesmo alguém patrocinaria um atleta para tê-lo de copo na mão? Você quer associar a cerveja ao Esporte e não o atleta à cerveja! É péssimo para a imagem de Ronaldo, tanto para o esportista quanto para o mito, além de alimentar sua fama - para se dizer o mínimo - de baladeiro. É ruim para a marca pois a propaganda é apelativa. O momento escolhido é o pior possível, justamente quando Adriano abandona o Futebol por causa da dependência alcoólica. Nesta semana, tive acesso a uma pesquisa da European Sponsorship Association sobre as novas tendências na relação entre Esporte e álcool. Cresce aceleradamente, em todo o mundo e todas as modalidades, a restrição à participação das bebidas alcoólicas, incluindo cerveja, no patrocínio esportivo. Por mais longo que seja, este é um caminho sem volta. O mais interessante é que esta tendência parte, principalmente, das próprias entidades esportivas, percebendo que tal associação não é – literalmente – saudável. Em seguida, virão as restrições a fast foods e refrigerantes. Vai chegar a hora do Esporte dar prioridade a produtos realmente saudáveis. O impacto inicial na receita comercial dos principais eventos e entidades esportivas será grande, a partir de uma das maiores quebras de paradigma na história breve do patrocínio esportivo. Obviamente, todos terão que se adaptar ao novo cenário e, como sempre, uns o farão mais rápido que outros. Cabe aos gestores destas entidades ter visão estratégica e iniciar o processo de adaptação imediatamente. Quem enxergar antecipadamente este tsunami, terá maiores chances de salvar ou mesmo surfar nesta onda.  Só sei dizer que a Brahma e Ronaldo estão vindo na contra-mão da história, fazendo a alegria dos rivais – de ambos. Eu mesmo, fã do talento de Ronaldo, não resisto ao humor sarcástico. Que Ronaldo é brahmeiro, nem precisa dizer. Pela barriga, logo se nota.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Futebol e Sustentabilidade


Há cerca de um ano, tenho discutido a relação entre Esporte e Sustentabilidade com especialistas nas duas áreas. Esta discussão tem se estendido para outros envolvidos na Indústria do Futebol, como clubes, federações e patrocinadores. Acreditamos que o desenvolvimento empresarial sustentável é um caminho sem volta, uma megatendência da qual nem mesmo o Futebol ficará imune. De um lado, está uma demanda urgente pela mudança de mentalidade na gestão de novos clubes e, de outro, o grande poder de mobilização que possui o Futebol em nossa sociedade. Certamente, este será um assunto cada vez mais presente neste e, espero eu, muitos outros blogs. Algumas iniciativas - muito bem feitas, diga-se de passagem - já podem ser identificadas em organizações esportivas em todo o mundo. O gigante FC Barcelona utiliza a Responsabilidade Social como posicionamento de mercado. Outros trabalham no desenvolvimento de arenas ecológicas, eventos carbon free e suporters' trusts (iniciativa que reconhece o direito do torcedor na gestão dos clube). Conversando e aprendendo sobre o tema, cada vez mais situações cotidianas do Futebol chamam atenção, como a necessidade de instalação de torneiras auto-reguladoras nos sanitários do estádio do Morumbi, mais econômicas para o clube e para o meio ambiente. Mas no último dia 28, um fato maior me chamou atenção. Enquanto 3 mil cidades em 80 países - incluindo o Brasil - apagavam as luzes num movimento emocionante pelo planeta, o Futebol brasileiro, realizava, em pleno sábado, partidas noturnas, neutralizando o esforço de milhares de residências. Para piorar, o clássico diurno do Morumbi - não realizado na hora marcada para o apagão, é verdade - também contou com 90 minutos de refletores acesos. São indícios mais do que suficientes que alguma coisa precisa e pode ser feita. Não é mais possível encarar um Futebol alienado aos seus problemas conjunturais e, principalmente, ao que acontece à sua volta. O aquecimento global afeta a vida de todos e, num futuro breve, pode afetar decisivamente atletas e eventos esportivos. Quem está preocupado?